quinta-feira, 19 de novembro de 2009

ARCANO 16



o vento brinca com a árvore na janela
e tua voz vem riscar a vidraça

é tão tarde

quando sussurras teus versos
em rimas surreais
que deslizam pelos meus sonhos
junto com umas lágrimas descabidas

é tão tarde

para riscar peles e vidraças
até os mortos sussurram
longas árias
em cadencias insanas
enquanto você chora
em rimas perfeitas
murmura histórias arcanas

versos
música
hosanas e teu corpo

é tão tarde

eu sussurro
os mortos mentem
em línguas mortas
enquanto a tua desliza
no céu da boca
segredos estelares
bobagens seculares

mentiras de vento e folha
que eu finjo não ver
nesse gozo esquecido
perdido entre as frinchas da noite
eu entendo
tudo, ou quase tudo,
de tudo que nunca entendi

meus olhos ardem
e te esquecem um pouco mais
fecho o livro sem pressa
guardo o poema junto aos meus
que dormem sozinhos

teus mortos sussurram
é tão tarde

Um comentário:

  1. A foto do Paulinho de Andrade em todas as págonas é neurotizante.

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