segunda-feira, 13 de junho de 2011

domingo, 12 de junho de 2011

Ao Che - Parte I




Meu querido Che,
Não peço perdão por nunca ter dito o quanto foi amado, pois sei que entenderia que não o fiz para proteger você e seu nome perante a situação complicada que enfrentava naquele exato momento. Eu jamais colocaria em risco sua vida política e familiar, você sabe disso.
Eu procuro entre os escombros de nós dois o porquê de vivermos praticamente numa fronteira e não termos nos encontrado antes. Era tão perto e tão distante ao mesmo tempo.
Dói-me saber que eu poderia ter feito você acreditar que o amor estava tão próximo e as fronteiras que nos separavam eram apenas imaginárias perante o que dividimos durante aqueles tempos de necessidade e guerrilha.
Quando nos encontramos pela primeira vez naquela sua viagem ao México eu pude ver no timbre de sua voz o quanto tínhamos em comum. Sei que nosso encontro foi em momento nada propício. Você sabe mais do que eu da culpa que senti, o quanto tentei me convencer que tudo não passava de asas da minha imaginação, do quanto lutei para não ficar ao seu lado, embora fosse impossível naquele momento de furor.
Ainda sinto seu cheiro, Ernestito, seu toque, sua voz, lembro dosseus ideais, do quanto amava sua luta e acreditava em um mundo melhor.
A igualdade que você tanto almejou e tudo que me contou, ainda estão por vir.
Hoje, sozinha, me pergunto o porquê de tirarem você de nós tão repentinamente.
Ainda guardo sua boina, aquela que você tanto gostava e que eu envaidecida, fazia questão de colocá-la em sua cabeça. Sei que nunca poderei revelar a ninguém que a tenho e que dentro de mim está a melhor parte de você.
Sei que não partilharei as músicas que ouvimos, as noites e manhãs de sexo e prazer sem culpa e revolução. Nunca poderei se quer falar sobre as nossas conversas incessantes nos momentos mais incomuns, a aceleração do coração e a doçura da sua voz quando disse meu nome pela primeira vez.
É muito difícil guardar esse amontoado de sentimentos, mas eu o farei querido, pois jamais colocaria o seu nome em páginas de jornais sensacionalistas, jamais colocaria nosso amor na boca de pessoas que não sabem o que é ternura.
Esse preço eu tenho que pagar, e não me importo, pois o que senti por você foi pleno. As armaduras que usei durante uma vida foram abandonadas no momento em que te vi pela primeira vez.
A carta que recebi datada em Novembro de 1966 vinda da Bolívia, continua aqui, e o meu sentimento está guardado naquela caixa de madeira enrolada na camiseta preta que você gostava tanto por pertencer ao partido de uma época de sua vida e que você resolveu me presentear numa tarde de agosto, lembra-se?
Sinto sua falta amado Che.