domingo, 29 de novembro de 2009

homem




HOMEM

Não te quero assim
Guerreiro cansado
Não te quero assim
Perfeito lutador
Homem imortal
Sem defeitos
O grande.
Não te quero forte
Não te quero santo
Não te quero macho
Dominador.
Não te quero, homem
À imagem e semelhança de Deus.

Eu te quero assim, fraco
Mais parecido com o demônio
Eu te quero assim, mortal
Cheio de defeitos,
Humano apenas!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

ARCANO 16



o vento brinca com a árvore na janela
e tua voz vem riscar a vidraça

é tão tarde

quando sussurras teus versos
em rimas surreais
que deslizam pelos meus sonhos
junto com umas lágrimas descabidas

é tão tarde

para riscar peles e vidraças
até os mortos sussurram
longas árias
em cadencias insanas
enquanto você chora
em rimas perfeitas
murmura histórias arcanas

versos
música
hosanas e teu corpo

é tão tarde

eu sussurro
os mortos mentem
em línguas mortas
enquanto a tua desliza
no céu da boca
segredos estelares
bobagens seculares

mentiras de vento e folha
que eu finjo não ver
nesse gozo esquecido
perdido entre as frinchas da noite
eu entendo
tudo, ou quase tudo,
de tudo que nunca entendi

meus olhos ardem
e te esquecem um pouco mais
fecho o livro sem pressa
guardo o poema junto aos meus
que dormem sozinhos

teus mortos sussurram
é tão tarde

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Agora


Não quero ser tua na rua,
quero ser nua na tua, no quarto.
Não te quero só meu,
quero você e eu.

Não quero teu papo
de amor, ilusão, o que for.
Te quero de papo pro ar
comigo a rolar pelo chão...

Não quero a tua cara amarrada, teu drama.
Que nada!
Quero brigar na tua cama, ser tua sacana, insana
e não namorada ajuizada!

Não sou de fachada
e nem te preciso pra isso.
Te quero sorriso, desejo
e tudo o que sinto quando te vejo.


Não quero tentar,
ou fingir que é sério.
Vamos apenas gozar
esse nosso mistério.

E se, algum dia,
(quem sabe?)
o sentimento rolar,
deixa ele crescer
e a gente vê no que dá.


foto: Alexandre Grand
Modelo: Larissa Guitarrara

sábado, 14 de novembro de 2009

O Silêncio que Cala

(Sonia Cancine)

Do novelo de fatos estranhos
O maceramento dos olhares
Do exílio, intacta indignação.

É limítrofe
(a insanidade e a lucidez)
Nos ventos álgidos
Que encobrem meus passos
Entre ruas laceradas da Terra.

Queria um Silêncio absurdo...

De gritos lascados
De lágrimas gritantes
De cada gota de sangue
De cada lágrima derramada
Da arena da vida

Mas um silêncio profano e de pupilas ardentes
Pôs-se a caminho, tendo às costas a ninhada.

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sábado, 7 de novembro de 2009

Fanatismo - Flá Perez














Sem qualquer respeito

ou nenhum tato,
sem algo que o impeça

e súbito,

esse clichê de peito cheio invade,
esmorecendo os muros
da ExcentriCidade.

E dói desabrido, chega aos olhos
e num desbordamento tanto,
molha intenso

-corpo escorrendo
ainda
pelas pernas-

É o bicho mais feroz,
um cantochão aflito,
são os meus gritos procurando ecos
nas trajetórias dos comentas mais longínquos

e vibrando inversos,
desarmônicos,
malditos.

É ele! Ah, ainda ele!
Um aleijão platônico,
carneando Prometeu na minha frente,
consumindo minha pele, alma,

quintessência jônica.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Doce Bailarina no Jardim



As flores alaranjadas daquele imenso jardim sorriam para ela, em um dia limpo de verão, com nuvens pincelando o céu, espalhadas por uma brisa fina e constante. Seu coração seu encheu de gozo e bailava em meio às flores dançantes daquele dia. Os raios solares atingiam seu rosto pálido que se transformava em luz, rodopiando e cantando alegre. As sapatilhas se enchiam com a terra vermelha que explodia junto com suas passadas tortas e quase desajeitadas.

Bailaria o dia todo, a noite toda, todos os dias, eternamente. Feita de forma única, a bailarina rodopiava entre os arbustos e flores, galhos roçando, atrevidos, seu corpo frágil, ágil, contudo. Menina pequena, corpo de mulher. O olhar trazia todo o mundo e seus sentimentos mais densos e quase esquecidos. Os homens não viam lógica em sua dança, nunca poderiam; tiveram seu coração congelado, incrustado num peito gélido. O amor se transformou em fumaça branca e efêmera, subindo e sumindo num céu pesado, aguardando o início de uma chuva ácida.

A bailarina girava com passos curtos, os pés cansados e sofridos. Seu cabelo úmido balançava aliviando o calor do sol que a banhava. Uma mulher roliça desatou a chorar e levou uma bronca pública de uma velha. Alguns homens tentaram intervir, queriam fazer a moça parar, à força se necessário.

As pessoas que a vislumbravam, uns maravilhados, outros insultados, começaram a resmungar e, logo, o resmungo virou burburinho, e já havia uma grande confusão. Os girassóis viraram de costas para as pessoas e apoiaram a garota. Seus olhos brilhavam e o sol, a convidava a continuar sua dança ousada.

A terra foi ficando firme e resistente. As crianças começaram a aplaudir, os homens as recriminaram, algumas mulheres brigaram com eles. Os aplausos foram ficando mais fortes, as crianças assobiavam, as mulheres aclamavam e choravam, os homens estavam indignados, não sabiam como fazê-la parar.

A bailarina sorriu, antes do último suspiro. Havia crianças dançando com ela e algumas mulheres começavam os seus primeiros passos quando um som surdo e seco ressoou no ar. Ninguém conseguiu identificar o que era ou de onde vinha, mas viram a bailarina cair com seus olhos vidrados e seu corpo frágil ensanguentado.

Gritos, desespero, logo a pequena bailarina já não estava mais ali. No entanto, não conseguiram conter a semente que ela plantara, outras bailarinas apareceram. Abatidas como pássaro triste, no início, mas persistentes e tantas, que foi impossível aos homens abaterem-nas. As crostas dos corações gélidos estavam derretendo.
 

domingo, 1 de novembro de 2009




Tua boca

algo
tão
doce

quão

algo
dão
doce