Acordo regada em suor novamente.
As marcas de seus dedos arroxearam meus braços, ainda sinto a dor. A alma esfacela-se em lembranças antes julgadas mortas, despertas por um grito surdo, tenso.
Demoro-me a descobrir a nudez dos pés, desprotegidos, solitários.
Teu rosto ecoa em minha mente como espectro real, sobrevoando meus pensamentos mais obscuros. Luto com isso, digladio contigo. Por quê? Sempre pergunto. Mas percebo que muitas respostas ficam abstrusas, perdem-se em esquinas de enleios soltos.
Brigo com Deus, mas me lembro que as pessoas são obtusas e livres.
Foram anos, primeiro meu pai, depois você. Declarara cuidar, por ter-me tirado de sob as asas de minha mãe. As lágrimas ainda vêm furtivas quando me lembro, sem esforço, antes como memórias convulsivas.
O que farei com os pedaços da alma quando me vem o chão e quebra-me a racionalidade?
Nunca disse que não poderia viver sem a sua presença, mas acostumei-me a ter rédeas, às vezes curtas.
E a liberdade? O que faz um pássaro domesticado que tem sua gaiola aberta de repente?
No começo eu chorei, não sabia por onde ou como voar. Estava acostumada à desordem da prisão suja. No entanto, quando senti a primeira brisa da manhã, gelando as lágrimas recém secadas, pude notar o sol com outros olhos.
E voei. Senti-me livre. Sem rumo no início, mas encontrando logo o caminho.
As lágrimas, contudo, teimam em me açoitar algumas vezes. Principalmente nas noites solitárias em que anseio por um outro tipo de liberdade que já conheço de vista.
E os teus gritos ainda agridem meus sonhos; e minha alma ainda tem as marcas; e o coração ainda chora as feridas. Tento te matar, mas você continua me afrontando com um riso irônico bem vivo. Está longe, fora das vistas, contudo.