quinta-feira, 22 de outubro de 2009

SEU PAPEL


SEU PAPEL


No quarto
Uma escrivaninha
uma gaveta

Encontro você

Meu amigo de todas horas
Escutador de minhas paranóias
Me pega de surpresa
Em liberar de emoções...


Você é meu amigo especial
Faz um filho em mim
em rabiscar de minhas inquietações..


Seu papel ..
é um devorar de meus sentimentos
multiplicando um outro ser
que me denuncia



Ana Maria Marques

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Em flor

Semeei ventos e tempestades
nas trincheiras quotidianas

belicosa essência ancestral
nos campos da sobrevivência

até que fui rendida
na origem uterina
que em mim, corpo lúteo
falou mais e melhor

pintou meu avesso
rubro vibrante
com as cores petaladas
de canteiros fartos
e férteis

e o mundo acordou
muito mais cor

de rosa.

Malu Sant'Anna

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

DENSIDADE



toda a manhã procurei
esconder dos teus olhos
esse peso na alma,
essa inquietude,
essa fome.

é pouca coisa ou, quase nada
um vago temor,
um medo que me espalma
sem pressa
apesar da calma
disfarço,
deslizo.


me escondo,
dentro da folha branca
procurando
sílabas,
palavras,
salvação
nesse poema que me entala

te engano,
te beijo
e sigo

esforço tenso
em tentar ser
densamente leve,
levemente densa



sábado, 17 de outubro de 2009

Da parte que me cabe




Os pensamentos não me cabem mais
Atravessaram a Av. Conceição
Em alta velocidade,
Mendigaram aos estranhos que passavam:
-Piedade!

Os cacos já não colam mais
Espalharam-se pelo corredor
E não há cola que dê jeito

As teclas do computador e meu coração
Desbotaram na s pontas dos meus dedos
As letras estão decalcadas
Nos meus medos e defeitos,

Do que sobrou sobre a mesa da cozinha
Foram as picuinhas e o pão que embolorou,

O café esfriou, não uso garrafa térmica
Consumo tudo no calor dos momentos,

Alimento-me agora da fé de outrora
E de alguns fragmentos.

E dôo sem medida e previsão
Pois ainda me resta da vida um quinhão,

Quero a parte que me cabe neste vasto mundo.







http://www.designup.pro.br/files/insp/thumb300x300/1250519367.jpg

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Culpa




Cheguei cansada,
Colhi as flores,
Murchas, coitadas,
Descoloridas, empoeiradas,
Pareciam mortas.

Reguei as flores,
Como sangue em carne viva,
Dilaceradas, de pétalas escorridas
No ralo da pia.
Não ressucitaram.

Agora vão me culpar por todas as queimadas da vida.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Black is Beautiful - Flá Perez


                                                      Arte: "The Dance" de Marco Angeli

 

A negra pele tua


- carne firme e nua -


não me quer
deixar
um só momento.


Teu tesão,
latejando em meus lençóis,
não me deixa nunca
o pensamento.


Acaricio,
seios, ancas, coxas
( lugares onde
fizestes
essas pequeninas
marcas roxas)


seus-meus dedos
deslizo:


e transformo
saudade
em gostoso
tormento...


Contrafeita
satisfaço-me,
plenamente insatisfeita.


O telefone toca
e te ouço, rouco:


- Quero mais , meu amor
quero sempre!
Porque um dia, benzinho,
 é muito pouco!

Esse poema foi selecionado e publicado
na Antologia Vide-Verso, Editora Andross 
em 2008 e modificado hoje.

sábado, 3 de outubro de 2009

Medo

Acordo regada em suor novamente.
As marcas de seus dedos arroxearam meus braços, ainda sinto a dor. A alma esfacela-se em lembranças antes julgadas mortas, despertas por um grito surdo, tenso.
Demoro-me a descobrir a nudez dos pés, desprotegidos, solitários.
Teu rosto ecoa em minha mente como espectro real, sobrevoando meus pensamentos mais obscuros. Luto com isso, digladio contigo. Por quê? Sempre pergunto. Mas percebo que muitas respostas ficam abstrusas, perdem-se em esquinas de enleios soltos.
Brigo com Deus, mas me lembro que as pessoas são obtusas e livres.
Foram anos, primeiro meu pai, depois você. Declarara cuidar, por ter-me tirado de sob as asas de minha mãe. As lágrimas ainda vêm furtivas quando me lembro, sem esforço, antes como memórias convulsivas.
O que farei com os pedaços da alma quando me vem o chão e quebra-me a racionalidade?
Nunca disse que não poderia viver sem a sua presença, mas acostumei-me a ter rédeas, às vezes curtas.
E a liberdade? O que faz um pássaro domesticado que tem sua gaiola aberta de repente?
No começo eu chorei, não sabia por onde ou como voar. Estava acostumada à desordem da prisão suja. No entanto, quando senti a primeira brisa da manhã, gelando as lágrimas recém secadas, pude notar o sol com outros olhos.
E voei. Senti-me livre. Sem rumo no início, mas encontrando logo o caminho.
As lágrimas, contudo, teimam em me açoitar algumas vezes. Principalmente nas noites solitárias em que anseio por um outro tipo de liberdade que já conheço de vista.
E os teus gritos ainda agridem meus sonhos; e minha alma ainda tem as marcas; e o coração ainda chora as feridas. Tento te matar, mas você continua me afrontando com um riso irônico bem vivo. Está longe, fora das vistas, contudo.