sábado, 3 de outubro de 2009

Medo

Acordo regada em suor novamente.
As marcas de seus dedos arroxearam meus braços, ainda sinto a dor. A alma esfacela-se em lembranças antes julgadas mortas, despertas por um grito surdo, tenso.
Demoro-me a descobrir a nudez dos pés, desprotegidos, solitários.
Teu rosto ecoa em minha mente como espectro real, sobrevoando meus pensamentos mais obscuros. Luto com isso, digladio contigo. Por quê? Sempre pergunto. Mas percebo que muitas respostas ficam abstrusas, perdem-se em esquinas de enleios soltos.
Brigo com Deus, mas me lembro que as pessoas são obtusas e livres.
Foram anos, primeiro meu pai, depois você. Declarara cuidar, por ter-me tirado de sob as asas de minha mãe. As lágrimas ainda vêm furtivas quando me lembro, sem esforço, antes como memórias convulsivas.
O que farei com os pedaços da alma quando me vem o chão e quebra-me a racionalidade?
Nunca disse que não poderia viver sem a sua presença, mas acostumei-me a ter rédeas, às vezes curtas.
E a liberdade? O que faz um pássaro domesticado que tem sua gaiola aberta de repente?
No começo eu chorei, não sabia por onde ou como voar. Estava acostumada à desordem da prisão suja. No entanto, quando senti a primeira brisa da manhã, gelando as lágrimas recém secadas, pude notar o sol com outros olhos.
E voei. Senti-me livre. Sem rumo no início, mas encontrando logo o caminho.
As lágrimas, contudo, teimam em me açoitar algumas vezes. Principalmente nas noites solitárias em que anseio por um outro tipo de liberdade que já conheço de vista.
E os teus gritos ainda agridem meus sonhos; e minha alma ainda tem as marcas; e o coração ainda chora as feridas. Tento te matar, mas você continua me afrontando com um riso irônico bem vivo. Está longe, fora das vistas, contudo.

2 comentários:

  1. .


    SEM A SUA PERMIÇÃO EU SINTETIZO, NÃO AS
    SUAS PALAVRAS, MAS VOCÊ.

    "Do suor que regou teu corpo tu lavaste todas as minhas memórias.
    Vejas nestas marcas roxas que fizeste nos meus braços com a força dos teus dedos, diferente da força do amor que tu me deste. A minha alma que esfacelada se julgava morta desperta com um grito surdo, intenso, quase mudo, no interior do peito que abrigou teu rosto, teu beijo e o amor que nos uniu.
    Se a nudez que descobriu meus pés os deixou frios, sós, desprotegido, descobriu também esse rosto que latente se mostra alegre em minha mente embaçando os pensamentos obscuros desta dor que me fizeste. Digladio, contigo e já nem sei por quê. Talvez eu busque essas respostas, como buscam as lágrimas furtivas dos meus olhos um canto para morrer e nesta morte eu tento matar aquele que me causa amor, me afronta com o irônico do seu sorriso, na distância que ele provocou entre nós dois".

    silvioafonso.









    .

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  2. "SEM A SUA PERMIÇÃO EU SINTETIZO, NÃO AS
    SUAS PALAVRAS, MAS VOCÊ."

    Clap! Clap! Clap!

    Muito bom!

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