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segunda-feira, 7 de junho de 2010
domingo, 6 de junho de 2010
Cura
Ela caminhou ao seu lado. As folhas secas trepidando com os passos lentos. Frio. Tudo marrom. Contudo, ao se aproximarem do lago, lentamente foram vendo a mudança de cenário. O belo caminho de primaveras cor de sangue contrastavam com os troncos escuros recém lavados da chuva noturna. Ele levantou os olhos, ela percebeu que eles se iluminaram. Docilmente, a mulher apertou ainda mais o braço do companheiro. Ele sorriu, cabisbaixo, levemente constrangido com a explícita paixão que ela não escondia.
O barulho da madeira velha começou um canto triste, acompanhando os passos do casal. A ponte pequena, muito antiga, marcada pelo tempo. Pararam. Apoiaram-se no parapeito, soltava lascas. Permaneceram longos segundos em silêncio. A vista era diferente. O lago parecia mais longo e infinito. Ela notou que o semblante dele mudara. Mas só notou, não viu. Olhava o horizonte, fingindo estar atenta ao redor. Era ele sua atenção maior, no entanto. Respirou profundamente. O ar gelado refrescou seu interior. Ele a vislumbrou. De olhos fechados, ela sentiu. Voltou os olhos para o homem ao seu lado, semblante sereno, marcas na face. A vida dera-lhe tapas muito fortes, cruéis. Ela ostentava marcas parecidas, muitas não superadas, mas o sangue que corria-lhe as veias anunciava vida pulsante. Ela sorriu, afetuosamente.
___Vê! – ela apontou a linha horizontal que ao longe separava o azul do lago do azul do céu. – Quase não se nota a mudança. Mas ela está lá, ela existe.
Ele parecia confuso. Acompanhou a ponta do dedo dela, visualizou a água, ela corria, quase imperceptível, rumo ao céu. Não se notaria diferença entre os dois cenários, não numa pintura a óleo, o que pareceu aos olhos dele. Seria necessário utilizar cores diferentes, batidinhas leves com tinta branca e tinta azul, misturar as cores para diferenciar água e nuvens quase invisíveis.
A mudança, ele entendeu e sorriu, é sutil. Se achega gradativamente, na medida em que a dor vai sumindo, como um sono calmo chegando devagar. Ele respirou fundo, pela primeira vez em anos, e sentiu que corria vida ali dentro. O ar coçou nas narinas e brincou infantil pelas vias, alcançou os pulmões. E ele finalmente conseguiu entender que não precisava esperar cicatrizar os machucados para voar de novo.
Ali, ele virou-se para ela, vislumbrou seus olhos cheios de promessas possíveis, e a beijou. O futuro chegava calmo, feito sol matutino no inverno que aquece o frio e amorna o corpo. O seu estava queimando. A alma vibrava. A cura virá, mas ele não irá esperar, antes a buscará. E será feliz no processo.
Foto Retired Couple by Boliston
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